terça-feira, 9 de julho de 2013

O primeiro da fila

Homem pontual, hábito britânico-brasileiro de chegar.
Olhos tesos, boca seca frente ao guichê
Mãos ao batente frio de granito,
Eis o tal homem; O primeiro da fila.

Cercado à correria dos tempos modernos 
E seus tic-tacs compassados, 
Subia e descia degraus demais, corredores, calçadas e ruas demais. 
E na fobia de filas demais, seguia em seu ofício de ser princípio.
Mas ser primeiro o tornara primário,
E só ele saberia explicar.

Exorbitantes filas, repletas de gentes, 

Agrupando qualidades, sorrisos e angústias distintas.
Pessoas lindas e terríveis,
Cores incomunicáveis estampavam seus medos.
E por ser primeiro, seu foco tangia-o,
Cabresto imaginário do que principia.

Por fim, seguia. Nem um dedo de prosa.
Repassava cheques e contas, cartões.
Titubeava um diálogo afável..
E em seu caminho, ao retornar 
Revia em ângulos felizes
A multiplicidade alheia das gentes.
Seus cheiros matinais, conversas
E aquele velho desejo de retomar a fila,
Quem sabe,
Por um dia ser o décimo quinto, quadragésimo nono.

Esquiva-se.
Maldizendo o mérito do tal desejado degrau do pódio.