segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Flor do cerrado


Faz dias
Sentia falta de sua beleza.
Morena flor
Colhida
Escolhia a mim.

Por todos percalços
E idas e vindas
A gente se esquece da formosura das coisas.
Somos demasiado sensíveis
E por vezes insanos.
Desleixados, egoístas e rudes.

Como se tivéssemos a certeza
De encontrar as mesmas flores pelos mesmos lugares
em que passamos.
Pura pretensão.
Mas, nem tudo na vida é azar
Reconvertemos valores
Revemos fatos até tudo ficar bem.
Ou inventamos desculpas mesmo.
Por que quando revejo suas cores
Me ilumino em puros tons de ternura...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Problema-ótica


Por que todo dia
Acorda e crê;
Perdeu.
Perdeu a chance de caminhar livre,
De fazer alguma coisa verdadeiramente útil
Ou prazerosa,
Perdeu a chance de sonhar
E sonhar não paga imposto, nem se pega fila..
Basta acreditar
E, também perde-se nos 'acreditos'...
Olha-se ao despertar
E já são quase meio-dia.
Perde a manhã.
E depois de amanhã não tem mais desculpas.
Nem requer prontuário excedente.
Aos meios, fadiga alimentícia
Puramente espontânea
Engole garfadas olhando poeira em móveis velhos.
e já tarde dorme e se insonia.
Lerdo e vil, como um veneno.
Dias escurecem cheios de mesmices,
Planeja um sonho tranquilo, sem mais desejos,
Sem pesadelos de galo cantar ou sons onomatopeicos.
Dormir. Roncar, talvez.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Passarinho.


Não me lembro o som daquele pássaro.
Faz tempo, nenhum assobio.
Um tilintar que seja,
Um nada.
Diminuto zero,
À esquerda de algarismos.

Um animal pequeno
De pequena importância.
Ouvia Bem-Te-Vi
E Tico-Tico.
Recolhi-se, asas sobre o peito
E esmiudava-se ainda mais,
Equilibrado ao cilíndrico puleiro.

Um passarinho.
Que pelas grades
Come o que servem.
Sequer voa.

domingo, 14 de agosto de 2011

Há tempos

Há tempos não se vê passarinhos no jardim.
Abarrotado nas memórias,
Revejo cenas de pouso e sutilezas
Refrescando brisas.
A ultima ave que vi
Estava morta.
E eu a comia.
Há tempos salvam-se dias.
Esmerando amenidades,
Jóias de pouco valor comercial.
Mas, insiste-se dizer;
Sempre existe um mercador...
Há tempos se respira, ouve e fala mal.
Há tempos não se come bem.
Há tempos agonfosíacos.
E sabem por que?
A alma almeja
Enquanto
A mente permanece em inverdades.
Há tempos não se vive.
Há tempos.
Já fede.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Enfado

Dias longos contemplam vácuos,
Em seus olhos vermelhos de fumaça.
Farejam poeira em móveis, livros,
Litros e mais litros de ócio e chumbo.
Dias inanoitecedores.
Suicidas e impotentes.
Insípidos.
Monofônicos.

E lá fora,
Danças e cores e músicas
Inalcançavelmente belas
Cortejam velozes o sublime enfado desses dias.
Roucos, lentos,
fúnebres.