domingo, 28 de março de 2010

O fim


As linhas do meu caderno
e a minha vida tem um fim.
Um medo assombra os desejos
por findar.
E assim os séculos, meses e dias
que por também findar,
adiam a resolução para um fim próximo;
adiar por findar...

E findo então,
meu poema sem pé nem cabeça
por querer mesmo seu fim,
morrendo de medo da morte.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Presente de um minuto


A chuva das noites passadas,
as dores de todas as dúvidas,
as farras, os porres, os risos e escândalos,
as conversas
fazem parte de um passado.

Os planos todos,
o casamento, os filhos, os netos,
o envelhecer, o padecer,
a mudança das coisas
fazem parte de um futuro.

O escrevendo do escritor,
o trabalhando do povo,
o amando, o construindo do casal,
o cuidando dos pais
fazem parte de um presente breve.

Portanto,
o portanto anterior não é mais presente
como o portanto de agora.
Seres humanos ligados no automático
desprezam o presente do minuto
constroem presentes de passados recentes
e o que se tem feito além disso?

Desejo construir meu presente minuto a minuto
até cada um ceder em passado...

Desejo merecer o segundo de agora.

domingo, 7 de março de 2010

Eu quero ser


Sua vida é uma canção,
eu quero ser cada nota, cada verso
cada refrão

E ser sua sombra, seu livro de cabeceira,
o seu jogo de estratégia,
sua festa, seu prazer,
sua insônia e seu cochilo,
seu algoz, sua força, sua ajuda,
sua ressaca e sua cura.

Eu sou o início,
e de repente tudo o que era incrível cansa,
e o que antes era novo
agora é antigo,
eu quero ser o umbigo,
o mundo seu, o próprio eu, o meio.

Dos olhares meigos e profundos
eu quero um sorriso infinito.
Da boca quero o gosto
amargo que me embriaga
de um amor gratuito, me entrega paz e guerra.

Eu quero a doçura da carícia
e o sal do suor que cai.
Quero ser o pão que o diabo amassou
e a maciez da asa do Querubim,
eu quero ser o fim, o começo e o meio
e o fim.

Eternosexualidade


As mãos entre as costas,
o arrepio às notas, o ar morno à torta
e à direita,
os mamilos entre os peitos,
os peitos entre os pelos,
os pelos entre as carnes
vivas e quentes,
bendita seja o ar que promete
umedece, cede e escurece.

Dedos longos, boca árdua,
beijo o beijo que me beija
e o que falta pro final
é desejo
de não parar, ou de parar
ou não, por tudo que se tem de sagrado,
de ficar alí afobado sentindo aquele cheiro
aquele gosto, aquele pacto
e o suor lambendo o corpo,
os olhos e o brilho
e todas as cores e o vermelho.

Sorriso evidencia a doação...

E que essa vida seja assim,
eterna enquanto viva
justa enquanto terna,
proibida enquanto úmida...

São os versos de minha eternosexualidade
que não me deixam mentir.

sábado, 6 de março de 2010

Medo de chuva


A chuva quando cai lava as ruas, estátuas e praças da cidade. Traz do céu com a água as energias de um lugar bom, até que se prove o contrário.
As plantas num geral respondem vistosas, coloridas...
O cheiro de terra invade os lares trazendo um pouco da zona rural às cidades. E embala o sono do bebê, dos animais todos e da menina chorona que perde o namorado.
E o dia depois de uma noite chuvosa é muito mais bonito, o sol é mais brilhante e o céu mais azul, tal como a menina depois de uma noite de chuva em sua cama escura, molhando seu travesseiro desconfortável; ela sorri e ninguém percebe as nuvens escuras de seu coração.
Um dia a chuva volta pra chorar outras mágoas, dias ou meses depois... E pode ser só uma lágrima mesmo, pode ser desespero...
Um dia a menina volta pra casa cansada, sem poder fazer muita coisa e já sem lágrimas nos olhos. Senta e escreve no diário o que queria pra sua vida, se importando muito pouco com as lágrimas caídas do céu.
Um dia chega o verão, enchendo de sol os lugares, e a menina brinca com os cabelos de frente ao espelho, rindo de si mesma...


... Não sei, tenho medo da chuva....


quinta-feira, 4 de março de 2010

O sonho


Um dia sonhei verde, rosa, azul turquesa, amarelo ouro, violeta, caqui, goiaba e vermelho. As pessoas me pareciam amáveis e indefesas, e eu não precisava me preocupar em como lidar com elas. O dia era de verão, uma brisa leve, um sol conveniente.
No meu sonho eu via todos os meus amigos, de todos os lugares desse país, juntos conversando coisas sem muita importancia, só pelo prazer da companhia. Minha mãe, meu pai,meu povo, todos muito bem, com saúde e o meu amor, o mais bonito, o mais honrado e recíproco de todos.
De repente o sonho acaba e o que resta são as frestas da luz de vida que ainda existe. São os resquícios dos desejos de toda uma vida ou a retratação de um presente feliz. Quem sabe? Fica a deixa de um sonho bonito que eu tive, uma utopia talvez, mas de sabor mais que indescritível...