sábado, 18 de maio de 2013

Meninos

Os dedos que pintam
São os mesmos que sangram.
As bocas que beijam,
As que sujam.
Os braços que brigam,
Enlaçam, incendeiam.
E eu, nem santo, nem vago,
Nem sinto, nem vingo.

Os brancos dentes da sereia morta,
Abraços tênues, laços e passos.
Os olhos de esguelha, fraterna e torta,
Morena de guerra, profundo corte.
Ainda se fazem humanos de pedra
Pomes.

Carícias benditas, lâmina e corte,
Faminta de sonhos, jardim de infância,
Flamejam brilhantes faróis de milha,
Agrura infinitos contando instantes.

E a ave que canta pro dia
Maldiz a noite
Calada e fria.

Os podres olhos da sereia de pedra
Afagos tenros, terços, celibato.
Os longos laços da ciência e o norte
Inclina subordinadamente a sorte.
Ainda se fazem meninos de aço
E corte.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Maria

Maria,
Minha mãe maria,
Antes que adormeça,
Sem querer, se esqueça
Me guarda em seu peito.

Adoça minha alma cansada de vida,
Meus caminhos torpes escuros de sorte,
Meus sonhos terríveis de vida e de morte,
Meus olhos molhados de suor e de perda.

Se eu recorro à tua graça, morena
É por que te conheço
E entende-me inteiro,
Que por me esparramar dentre as gentes
Dividindo, 
Sobrou-me o que hoje a mim medra.

Minha amante selvagem, 
Minha doce pena
Me ampara dos riscos cruéis da mentira
Me acomoda em teu ventre, moldando em teu colo,
Me atenda em sutis ligações repentinas.

Acredito que um dia te encontro
Nesse ou noutro momento da vida
A me acariciar os cabelos,
A me profetizar fantasias,
Emoldurar-me em tua boca de vidro,
Anoitecendo em ti os ruídos,
Amanhecida em mim, um fantasma.

terça-feira, 14 de maio de 2013

A válvula

Carrego em meu peito um amor já antigo
Rasgado aos ouvidos, andarilhar
Apanhada língua, um tal gosto sentido
Passado perdido, amores anuais.

Respira e inda vive nos colos alheios
Calor de janeiros, carnavais.
Apodrece cálido por entre os dentes
E remanescentes de rios ancestrais.

Revejo esse peso nas costas
O sabor de tais notas
Soando-me assoviar.
Entre letras em rima, ora em prosa
Em parte areia
Em minha mãos deslizar-se

E guardado revela-se atônito
Recolhido parece-me hipócrita
Resguardado carece afônico
Pago à vista em fração singular.

Demasiado eu-lírico intrínseco
Resvalado carece de lógica
À miúde acalenta-se cárcere
Acarretando a tal dor popular.

A válvula do carinho está queimada
Não há mais
Resposta
A máquina dos sentidos
Inopera-se
Onde estará seu acarinhar?





quinta-feira, 9 de maio de 2013

Novidade



Há tempos bate em minha porta.
Ouço-te em ondas telefônicas
E beijo-te em ríspidas palavras.

Desconheço-te.
E conheço-te demasiadamente.
Acaricio-me em deja-vus 
Infindos.


Revejo-nos.
Rejeito-me.
Refuja-se!



sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vermelho

Desculpe-me.
O vermelho dos teus olhos
Pouco me comovem.
Acidente-me

Colori

Faz dias,
Cores novas.
Brilhantes, cheias de vida.
Estatelados olhos os meus
De deslumbre.
Lindas pessoas, 
Conversas frescas, repletas de sonoridade.

Não parecem pertencer-me.
Cores que não combinam,
Talvez assuntos que eu desconheça,
Aquela resposta mal ouvida
Ou a imagem mal capturada.
O tímido tom que se desaparece
Em meio às tais vibrantes cores.

Todos os dias retorno ao mesmo cenário
Onde dispõem as tais belas cores
Telas novas, inda cheirando a tinta.
E aquela vontade de ser azul celeste,
Vermelho fogo, amarelo ovo
Cede ao monocromático medo.

Por que sou cinza.
E talvez prefiram verde água.