terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O velho e o moço

Na esquina ao lado vejo um homem. Partindo, vagaroso,
Corcundo e doente

Fraseando maldizeres.

Passos lentos, arrasta-se em praga e éter.

Uma velha imagem de fracasso e dissabor.

Suas costas, cheias de promessas

Parte mal cumpridas

Parte adiadas
Parte esquecidas.

E parte,

Como quem tem pouco a perder...


Na esquina esquerda vejo um jovem luminoso.

E anseio-o como em tempos de eleição...

E toda vez que o sol nasce

A luz desse homem mais corrompe.

Por fim, luzirá intenso

Até os derradeiros segundos do idoso fim,

Se traduzirá em gesto, corpos, luzes, brindes

E tempo.

sábado, 5 de novembro de 2011

As pedras

A pedra cai
Entre o colo dos ardentes amantes.
Gelada queima,
Faiscando, por entre os pelos,
Malícias e manias,
Açoitadas gotas de diamante.

A pedra de fogo
Incandescente se inflama,
Anestésica e féria.
Tumorizando odores juvenis,
Relampejando em pleno veraneio sol.

Hora um Pedra, hora outra.
E dores, e risos, e conversas de botequim
E uma multidão de reflexos.
E os dissabores de uma vida inteira
Ilustrando galerias...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Coito Interrompido

Demasiado tarde para rever
Os codinomes todos da inocência.
Puritanos pensamentos, de vis intensões
Amaldiçoam meu paladar.

Por vezes,
Sinto-me como num
coito interrompido;
Gozando fora do buraco.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Epitáfio em branco e preto


Tenho perdido pulso. 
Há muito se afogam males em cachaça.
Tenho ouvido vozes.
O tempo demonstra os caminhos torpes a serem percorridos. Indecifrável labirinto.
tempo apunhala-me, roubando o que resta de sintonia.
Perco o cálculo do nível de cansaço envolvido. Um desperdício consumado em duelo, ao que deveria caber dueto. E qual loucura a minha; jamais cantarei teus tons...
No entanto, minha cabeça alífera alimenta um desejo. O fim de um ciclo que insiste em resistir. Porém, eu, jovem velho brasileiro, aprendi muito facilmente a acostumar-me. Quem nasce e cresce só, não desenvolve. O mundo se converte à sua margem de poeira e escuridão.
Eu tenho perdido a fé.
Não sou mais menino introvertido satisfazendo-se em seu quintal.
Cresci.
E no mundo, cabe pouco menos do mínimo do que eu queria.

sábado, 17 de setembro de 2011

Sobre datas.


Crescemos aprendendo o valor de meras datas.
Agregando valores.
Neles se constroem desejos.
Desejos postumamente frustrados.
Frustração que dura mais que os minutos das poucas ligações.
Poucas ligações que fazem o menor sentido.
Menor sentido, contrário ao sentido induzido por todos.
Todos
Provam o valor de coisas e pessoas.
Pessoas meramente solicitas.
Solicitude alheia.
Alheio, procuro ficar.
Mas no fundo
Ainda se aguarda uma qualquer coisa
Um carinho que seja,
Ou qualquer nível de mentiras afáveis.
Uma vela, sopro, faço um pedido.
Pedir apenas sorte.
E não seria nenhum sacrifício...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

V de vazio

Quando acordo
E tamanho é o gosto de sangue,
Remédios e sonos calculam-me atônitos.
Em vômitos, refluxam ócio.

Tanto tempo vago
Tantos motivos para o nada
Se afogam rimas, terços, notas e sentidos.
Cotidianamente estável.

Como num labirinto,
Como labirintite.

Qualquer motivo de cansaço
Ou tristeza
Converte-se em nada.
Nessas muitas vidas vazias
De já muito tempo
Pra cá.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Flor do cerrado


Faz dias
Sentia falta de sua beleza.
Morena flor
Colhida
Escolhia a mim.

Por todos percalços
E idas e vindas
A gente se esquece da formosura das coisas.
Somos demasiado sensíveis
E por vezes insanos.
Desleixados, egoístas e rudes.

Como se tivéssemos a certeza
De encontrar as mesmas flores pelos mesmos lugares
em que passamos.
Pura pretensão.
Mas, nem tudo na vida é azar
Reconvertemos valores
Revemos fatos até tudo ficar bem.
Ou inventamos desculpas mesmo.
Por que quando revejo suas cores
Me ilumino em puros tons de ternura...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Problema-ótica


Por que todo dia
Acorda e crê;
Perdeu.
Perdeu a chance de caminhar livre,
De fazer alguma coisa verdadeiramente útil
Ou prazerosa,
Perdeu a chance de sonhar
E sonhar não paga imposto, nem se pega fila..
Basta acreditar
E, também perde-se nos 'acreditos'...
Olha-se ao despertar
E já são quase meio-dia.
Perde a manhã.
E depois de amanhã não tem mais desculpas.
Nem requer prontuário excedente.
Aos meios, fadiga alimentícia
Puramente espontânea
Engole garfadas olhando poeira em móveis velhos.
e já tarde dorme e se insonia.
Lerdo e vil, como um veneno.
Dias escurecem cheios de mesmices,
Planeja um sonho tranquilo, sem mais desejos,
Sem pesadelos de galo cantar ou sons onomatopeicos.
Dormir. Roncar, talvez.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Passarinho.


Não me lembro o som daquele pássaro.
Faz tempo, nenhum assobio.
Um tilintar que seja,
Um nada.
Diminuto zero,
À esquerda de algarismos.

Um animal pequeno
De pequena importância.
Ouvia Bem-Te-Vi
E Tico-Tico.
Recolhi-se, asas sobre o peito
E esmiudava-se ainda mais,
Equilibrado ao cilíndrico puleiro.

Um passarinho.
Que pelas grades
Come o que servem.
Sequer voa.

domingo, 14 de agosto de 2011

Há tempos

Há tempos não se vê passarinhos no jardim.
Abarrotado nas memórias,
Revejo cenas de pouso e sutilezas
Refrescando brisas.
A ultima ave que vi
Estava morta.
E eu a comia.
Há tempos salvam-se dias.
Esmerando amenidades,
Jóias de pouco valor comercial.
Mas, insiste-se dizer;
Sempre existe um mercador...
Há tempos se respira, ouve e fala mal.
Há tempos não se come bem.
Há tempos agonfosíacos.
E sabem por que?
A alma almeja
Enquanto
A mente permanece em inverdades.
Há tempos não se vive.
Há tempos.
Já fede.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Enfado

Dias longos contemplam vácuos,
Em seus olhos vermelhos de fumaça.
Farejam poeira em móveis, livros,
Litros e mais litros de ócio e chumbo.
Dias inanoitecedores.
Suicidas e impotentes.
Insípidos.
Monofônicos.

E lá fora,
Danças e cores e músicas
Inalcançavelmente belas
Cortejam velozes o sublime enfado desses dias.
Roucos, lentos,
fúnebres.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Adubo

Com mais tempo se percebe;
Paciência e conformismo
Pouco rimam.
Restam alusões,
Finas camadas de pé no chão,
Sobriedade na madrugada.

Com tempo se entende vazios espaços.
Fertilizam-se vontades.
Desfecho,
Perda inútil em meio à espontaneidade.
Luz que se apaga
Só.

domingo, 3 de julho de 2011

Ex-ótico.


Solto em berço infértil,
Âmago,
Morto em beleza viril,
Dissílabo.
Cortado em paradeiros,
Sorte.
Contado em versos de Oxum,
Hóstia, tio.
Planejado em ímpeto sono,
Entoado.
Alegria alegórica.
Alógico.

Sonhos rememoram seios
Antigos seios,
De beleza,
De ontem e amanhã.
Pois tempestades e vendavais
Desastram
E abrupto,
E pressinto, solido em vão.
Rende-me em trancedentais legiões de energia.
Nem bonito,
Exótico.



Barato

Indubitavelmente singelo
Coerentemente elaborado
Em versos de cafundó
Dos Escariotes todos da existência humana.
Medido por arcos da velha, do jogo de roda,
Da capoeira antiga.
Dos pulos de angolanas galinhas.

A fome que sinto não cabe
Em mim, de modos.
De que valem versos nobres,
Sem aflição?
Move mundo num xaxado infinito,
Cada passo, um reflexo.

Pago o preço da arte barata.
Caro.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Veraneios


Depois de relatado
O erro perde peso
Por pressa, de pobre.
De besta.

O porre homenina,
O canto de esquina,
O gelo.

Com pouco cuidado
E muita multa.
Veraneios de junho.

E o destino enorme,
Como uma varanda.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Flor


O relevar um tanto pobre.
Medíocre por talento.
Ressoando ais.
Despetalado.
E uma canção que floresce,
Enraizando pelos horizontes,
Cortando talhos
Incomodando-me.

Por que é uma flor
De espinhos fortes.
Rasgando o passado
Trazendo ao presente.
Perfumada e doce.

Perdoe-me.

sábado, 21 de maio de 2011

Complexidade

Reconheço a complexidade da felicidade.
Sua dificuldade e distanciamento.
Nem de alcançar, vos digo;
Mas, perdurar.

Acredito no amor
Ainda mais que na força da mudança.
Tenho uma perdida em meu quarto,
Qualquer hora a encontro
Jogada por entre livros e partituras...

No mais, vontades.
De sair correndo, correr, ré.
De estar bem. Ficar bom.

Mas, inda pasmo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A inveja

Reconheço a importância de um amigo.
Exprime carência
A mais extrema falta dele.

Então aborto.
Por que inda aspiro.
E revejo.

No mais, a inveja.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Noites



Vejo brazas
Flutuando por entre nuvens.

Vejo estandartes.


Vejo sentidos crescendo

Como uma criança

Que inda ontem sorria

Sem dente algum na boca

E hoje fala palavrão,

Põe dedo do nariz à boca..


Algemei a felicidade

Ao meu lado
,
Guardando o melhor desses dias de neblina
Pra lhe cantar

Simples versos de encanto.


Hoje senti saudade.

E você sabe, amor

Pouco me vale o tempo.

Sentei à varanda

Entre luzes de postes

E uma caolha lua,

E faltou um bocado de coisas.

Aquelas, que nunca estão ao alcance

Na hora exata.


E o céu estava tão bonito...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Errôneo

Pra ser exato
Preciso dispensar-me íntegro?
E por um passado
Ter-lo eu mal feito
Pagar por toda a existência?

Erro por errar.
Erro por acertar.
Errôneo.

domingo, 17 de abril de 2011

Casca


Ferro-me a fogo.
Firo-me.
Aflinjo-me a custo
E de graça.
Mal interpreto .
Não sou ator.

Poucas coisas me inspiram tanto
Quanto os olhos de quem amo.
E eu sei do sentir.
Pouco sentiria por não saber.

Minha dureza esconde tesouros.
Entenda-me.
Brigo-nos.
Veja-te.
Veja-me.
Veja-nos.
Amo-te.

Eles


Ele diz que eu falo demais.
Ela pensa fazer o meu bem.
Ele acredita na minha cegueira.
Ela grita verdades que me surdam.

Ele enxerga mais o que faço que a si mesmo.
Ela me molda com fôrmas de outrem.
Ele abusa do que restou da minha inocência.
Ela enfatiza ser a única que está por mim.

Ele condena o que lhe parece oposto
Mas, quando perde a voz,
É incapaz de concordar.
E se concorda, pouca importância lhe aparenta,
'Paciência, ninguém sabe o tempo que o tempo pode precisar'.
E eu que nunca gostei de esperar na fila,
Pego a senha, pago o pato,
Engulo o choro e nada deixo aparecer.
Cotidianamente canso e reflito,
Seu exemplo de perfeição não se encaixa muito bem.

Ela perdeu um tempo em vão acreditando
Na doçura das pessoas, na sorte que lhe aparecera.
Depois do baque, reflete em todo mundo
Ares do olho do defeito
Que por muito lhe convém enfatizar.

E por escolher não saber do outro verso,
Desconhece descompletamente os fatos
Do que enfim se sucedeu.

Ele acredita conhecer o que há por dentro
Mas perdeu todo esse tempo
Analizando o que minha grande casca diz.
E como sempre foi pra ele muito útil
Criticava e achava fútil se afastando do odor que a merda fez.
Mas eu sabia que a sua casa caia
Só não imaginaria que seria assim
Por todas direções.
E eu que sempre me doei demais, prefiro
Hoje sentar do meu lado
e resolver com quem briga por mim.
[Sou eu.]

Ela vocifera e se aflinge
E é incrível como atinge, sem mirar
O meu coração doentil.
Mas sempre soube que por baixo da menina-
Mulher
Se encondia uma felina
Pronta pra me defender.

Eu me admiro com a conveniência, a prepotência
O orgulho, a proteção,
A renúncia e o amor.
Mas me conheço bem melhor que todo mundo.
Então permita-me um segundo
Comentar da minhar dor...

Lágirmas Poucas


Vejo-me de encontro à parede.
Por isso, cedo-me.
Dia após dia,
Cenas familiares.

Confesso-me; lágrimas que 'inda' tenho.
Poucas, ralas,
Vazias.
Pouco se aflingem a pecar,
Pouco aspiram da vida
E dos conhecidos fatores que à vida cerca.
Pouco se assusta.

Sim, também preciso conter a mania
De minimizar fatores
Que me ferem
Demasiadamente.


Plantio e dúvida.
Meus erros; cruéis.
Teus justificáveis deslizes.

Sobre o cansaço

Tento.
Faço o que posso.
Excedo meus limites,
Experimento.
Pouco se enxerga.

Por fim,
Se torna corriqueiro
Ou no mínimo,
Tema de debate.
Incrível,
Tenho perdido minha razão.
Vou me cansando...

Porque
Eu não sou um menino de ouro,
De boa índole
E repleto de virtudes.
Não sou o exemplo de homem.
Não.
Não enxergo bem,
E por vezes,
Prefiro assim.
Releva-se melhor ,
Uma vez que detenho-me
Lidando com obviedades.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Retrato

Artista em formação.
Degenerado.
Por vezes, degenerativo.
Por partes, degenerando.
Sendo o que escolhe ser
Ou o que simplesmente se é.
Novos planos,
Nova-idade.
Mutável e mutante.
Complexo,
Perplexo,
Menino buxudo escondido na saia da mãe.
Nomeado em codinomes de origem paterna.
Erra e acerta.
Ou não.
Não soube se guardar nem sabe.
Nem aguardar.
Teimoso,
Ser humano carente de vista,
Amargo de vida,
Utópico de sobrevivência,
Artista por sentir alguma coisa que seja..
E sente muito
Pelo que anseiam de si
Nem sempre é o que gostaria.
É o que vê, relê e conclui
Que francamente
Pouco aspira.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Reticências


Vejo-me frutificar.
Enraizar-me em sangue, músculos e ossos
Às extensões de tua vida.
Sentindo-te acariciar-me as veias e hormônios.
Já não pertenço-me.
Expreguiço-me em tua rede ao meu dispor.
E um hálito frevente dos infernos,
E dentes,
E pele, e peitos.
Um seu no meu,
Um meu no seu,
Um grupo de prazeres pairados
Que somados,
Mais parecem
Reticências.

Sina de Passarinho


No dia em que eu não puder mais cantar, Nem sei.
Antes um céu escuro e deserto,

Um desamor.

Antes um bola de neve

Girando e se compondo.

Um copo vazio e sede e fome.
No dia em que eu não puder mais cantar

Que dilacere-se a galáxia,
Que se enxarque as paredes de sangue.
Antes a morte.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Devaneios

Tem noites
Que acordo suado,
Olhos vermelhos de 'T' maiúsculo.
Um membro involuntário se move
Pedindo afagos.

Me movo a parecer acompanhado.

Boca seca,
Cabeça na lua.

Secreções vertem sem que espero.
Sem a menor pretensão de controlar-me.
Onde está você, hora dessas, meu carinho?

Relatos veranis

Tenho o peito alagado
Pela rubra imagem da tua figura.
Transcorrem por meu peito, costas,
Pelos, sexo, sons inacabados...
Relatos,
Dos sonhos das madrugadas de chuva
Ou de vento, ou de sol...

Se sou eu o teu homem,
Nada é coerente
Como um eu que é você
E eu.
E que rasgue-se o mundo em mil partes,
Explodam-se as horas,
Transcedam-se os sons...

Aprenda a contar, menino!


Quatro olhos,
Duas bocas, quatro braços,
Dois corpos, duas libidos,
Dois desejos, dois instintos,
Uma finalidade.

Juntos, fazem amor.

Dois e dois são um.


domingo, 3 de abril de 2011

Filho de Logun


Não sou seu pai.
Não sou seu filho.
As vezes, nem sou eu.
Sou um imenso lago
Imerso a uma larga mata.

Use o meu espelho pra enxergar-se melhor.
E minha flecha pra se defender também.
No mais, confie.

sábado, 2 de abril de 2011

Um anjo


Conheci um anjo.
De asas longas e velozes.
Nem bom, nem ruim.
Um anjo-extra.

E por ser extra, tratado era como.

Não sei, não nasci pra casar.
E nem sou de família.
Sou e só.
De sol a sol
E ponto final.

Canção de embalar defunto

Passou-se o tempo de encantamento.
O cativando vê-se cativo.
Passarinho na gaiola,
Livro relido na estante, sem mais explicações.

Um dia terei novidades pra contar.

Vaga visão

Tenho vivido muito pouco
Das coisas que decidi viver.
Escrevido tanto
Dedos doem.

Minha cabeça grande aguarda adaptação.
E só.

Não sei.
Incapacito-me. Anti-aspiro-me.
Assusto-me. Acostumo-me.
Pairo no ar.

Porque vejo. E isso é um crime.
Contra a paz. Contra a ciência.
Contra a paciência.

Nada diz por mim, por isso digo.
Revejo um eu conhecido.
Sono, falta de, desconhecido familiar.

Vejo, releio, e assumo.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Não espero nada


Não espero nada da vida.
Não espero nada da morte.
Não espero nada do tempo, nem da idade.


Não espero nada das pessoas, mais.

Não espero nada do acaso

Nem nada do amor.


Vinte e poucos anos vendo da janela os tropeços da vida,

Sempre em confronto com a morte.

Algum tempo conhecendo o tempo e seus descasos.
Das pessoas?
Cedo ou tarde se frustram

E, logo, me frustram.
Talvez seja algo meu

Talvez não.

Enfim.

Não espero nada.

O que vier de bom, culparei à sorte.

E de ruim, ao azar.

domingo, 20 de março de 2011

O circo

Mais uma vez o palhaço se despede do seu público.
Das luzes, das farças todas.
Na frente do espelho, desfaz a maquiagem
E a cada golpe do pano úmido, mais triste a feição.

A vida real vem à tona
Trazendo todo o peso de ser o que é.
Um palhaço, um homem.
Apenas um homem.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sangue, suor e cerveja

Meço com o que brinco, penso e faço
Sorrateiro enamorado
Álcool roda minha nuca cega
Pronto pra qualquer besteira
Vivo a permitir mudar
Ou moldar um sofrimento
Sentimentos não podem explicar.

Finjo rir, de medo mordo e calo
Loucamente emancipado
E a fumaça no meu peito rôco
Fato. Feito de modo abstrato
Vejo a morte linda e negra
Dançar mórbida e faceira
Paranóias de querer ficar
Nóias de mundo rodar.

E a cada passo inundo as praças de suor vermelho
De sangue azul, de cachaça tenra
E sem mais penso; o que há de vir virá
E o agora deita e cheira
Sangue, suor e cerveja.

Precipitado o sonho, posto lisonjeiro
Inalcançávelmente limpo
E o cansaço no meu ombro, o peso
O fardo, presta conta ao frágil instrumento
São gotas de vermelhas já tão negras
De perdão e culpa e norte
E leste em meus lábios férteis
Vertem-se as condolências...


quarta-feira, 9 de março de 2011

Monte

Depois de tanto giro
Fiquei tonto.
Por que o mundo moveu tão veloz nesse tempo
Que pra ser sincero, me deu até enjoo.
Enxergo bem melhor agora, no chão.

Hoje me impressiono bem menos com a pretensão alheia.
E com a capacidade de persoadir.
Aprendi a rir dessas piadas todas.

Só um saldo.
De muitos que virão.
E pra um animal que vive num país
Em que tudo só funciona depois do carnaval,
Posso afirmar que quebrei um clichê.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Calculadora

Música
Ontem
Resta
Tarde
Encanto.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dias

Doces e cigarros.
Um monte de tinta.
Cheiro de flor, cheiro de fruta.
Rosa, roxo, verde oliva.
Apostilas.
Fones de ouvido.
Sala cheia,
de crianças.
1.
Meia dúzia de gatos.
Miando...
Fome, como.
Tarde durmo.
Dias de sono.
Noites de sol.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um menino


Certo tempo atrás conheci um menino.
Um garoto magro, como tantos outros.
Olhos castanhos, grandes como seus dentes.
Olhos cheios de sonhos e planos.
De um dia ser o que quisesse,
De ser forte, de ser independente,
De ser alguma coisa que pudesse se envaidecer.
Meros planos de grandeza...

Um dia, esse menino cansou de ser garoto.
E viu que existiam coisas que vinham e que iam.
Que as pessoas são boas e ruins.
Que os sonhos podem ser belos
Que podem reconfortar, adocicar momentos de medo e insegurança.
Mas, boa parte deles dependem muito mais de preparo
Do que, de veras, sorte.

Então, cresceu.
E os olhos, tinham o brilho de coisas reais.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Duas Escovas


Duas escovas se aproximavam.
Se esfregavam.
De tão limpas, espumavam.
De tão brancas, coloriam-se.

Uma cabeça vazia pode imaginar um mundo de coisas.
Eu vejo duas escovas.
Que um dia serão só plástico e fios
Numa sacola plástica qualquer.
Mas hoje, escovas.
Que dividem um mundo de sujeiras e segredos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Três pontos

Muitas canções conheço,
Nem todas sei de cor.
Quanto mais julgo conhecer o mundo e as pessoas
Mais me surpreendo.

Pessoas são uma eterna novidade.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Perdão




Eu credito nas verdades prescritas.
Vivo o que escolhi viver,
Por tudo o que me cerca
E pelo que pode um dia...
Me sinto sim, muito feliz
Não posso reclamar.

Não tenho tudo o que quero
e nem nunca tive
(talvez jamais tenha)
Mas,
Tudo me parece tão rico
E a mim ofertado
Que vesgo e de cor fico.

Então pra que perdoar?
Viver me parece a melhor saída.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Um sem verso


Eu não tenho medo da morte.
Do negro sabor do escuro
Das sóbrias manhãs de sorte
Nasce em mim sensatez obscena.

Eu não tenho cheiro de nome
Nem de tão doce, olhar imaturo
Dos lagos densos e profanos do desejo
Quero forcas e prisões
Sem meninices de se lamentar.

Do mundo em que eu vim
Não trouxe dinheiro, lamentos
Nem porres, mundanos laços
Marcados.
Trouxe a leveza de um sorriso de menino.

Sem mais tempo de temer
Ou de cansar
Meus olhos conduzem espelhos espirais.

Eu não tenho medo da vida.
Conheço a 'sobredádiva' de se proliferar
Das mãos correm sangue e suoro
E nadam em correntezas límpidas.

Eu não tenho gosto de mundo
Não tenho cede de ventos brandos de calmaria
Eu não tenho canto disciplinar
Eu tenho canto de mata,
Eu tenho canto de esquinas,
Canto de zonas, zelos, igrejas baldias,
Calados, colados, clamados sons atinam,
Altos, limpos, brancos e vermelhos,
De tão vermelhos, negros
Como a noite
e a morte
o súbito.

Tesoura


Cortei o cabelo.
Eu mesmo, tesoura, vrap, caiu no chão.
E no piso, uma testemunha,
Saco de lixo, finos fios

Houve quem gostasse, quem desgostasse,
Quem sequer percebesse
Os que preferem-o louco e rebelde
Os que escolhem-o limpo e novidade
Os que diziam melhor o antigo
E nunca mencionaram anteriormente,
Os que assumem gostar do novo,
Esnobando dos largados soltos cachos.

Mas, continuo vendo
No topo da minha cabeça
Apenas cabelos
Fios escuros, disformes
Talvez descontentes.

E se alguém me pergunta
Porque, meu Deus?
Cortar assim, sem mais...
Eu digo:
Cortei. Com tesoura.
Aquela do desejo,
"...Desejo mesmo de mudar..."