domingo, 12 de dezembro de 2010

O ser ele

Depois de tanto tempo
De tanto medo da perda...
Hoje percebo,
Que tenho medo de ganhar.

É um medo estranho, uma alegria triste,
Uma estranheza.
De uma aparência, de um mérito não meu.
Mas, pintado com o meu nome,
Brilhando em holofotes, estridente em microfones,
E gritos mais que suspeitos...

É estranho ver chegar uma coisa muito desejada.
É cruel não ter peso para, enfim, sustentá-la.
Ou lógica, ou coerência... Nexo.

É literalmente uma estranheza, um querer não querer.
É um bicho de sete cabeças,
E eu, que sou apenas um bicho do mato
Mal sei lidar com estas situações.

De todo modo, me parece fácil hoje perceber
A doçura e a leveza de se perder.
E ouço vozes como quem me aplaude
E pede palmas.
E ele diz que o ele sou eu
mesmo eu sabendo que eu sou eu...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O doce e o amargo

Naquele sábado
Sentei-me à porta de teu apartamento.
E odiei-me.

Olhei pr'as janelas acesas.
Medo.
Medo e vontade que me visse.
Medo e vontade de mudar tudo.
De escolha, de escola. de colar.
De ser jamais, do nunca.
Medo.

O afago da mão não-minha.
O ciúme.

Medo e vontade de ser teu
De cantar na tua gaiola.
Medo e vontade de dividir o rancor.
Medo da Vontade.
Vontade do Medo.

Por fim, um vento frio me assusta.
Sem um único cigarro ou centavo, cabeça alta, cheia de nós dois.
E eu, perdendo-me entre sinais e ladeiras, em plena gestação.
Medo do medo que dá
Da vontade e do medo.
Das covardias e incompreensões.
Vontade de sumir. De assumir. De açoitar-me.


Nasceu domingo
E eu nem me dei conta...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

As linhas

Se pego uma régua
Um lápis
E um papel, alinho reto
Pobres retas
Previsíveis desenhos
Sem muita cor.

Duas linhas paralelas
Que seguem...


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O olho que vê

Frente a frente
Ao olho que vê
Se vê um mundo de cores e sombras
Visto em tons ocres e assustados
Os temores e as belezas.

Frente a frente
Ao olho que vê
Uma sede e uma fome
Uma loucura
Uma cegueira
Um foco turvo e despropósito
Um som e momento
Um stop
E tudo o que resta
É silencio
E som

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Terezazinha

"Terezinha" (Chico Buarque de Hollanda) revisitada

O primeiro me chegou
Como quem vem da Suíça
Trouxe dólares na cueca
E uma conta paradisíaca
Me contou suas vantagens
E a coragem que ele tinha
Em sua sala no senado
Tinha uma foto que era minha.

Me encontrei desconfiada
Bloqueei o meu cartão,
E num saque sem sucesso
Se assustou, me disse não.

O segundo me chegou
Como quem chega de Jah
Trouxe uma marijuana
Mal apertada a vazar
Endagava-se a si mesmo
E roubava minha comida
Vasculhava minha gaveta
Me culpava, enlouquecia.

Me encontrou acaretada
E liberei minha tensão
Mas numa fria madrugada
Morreu com um bagulho na mão.

O terceiro me chegou
Como quem chega da missa
Trouxe uma biblia em hebraico
Trouxe um terço da Tunísia
Nem sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Pôs a mão em minha cabeça
E ao capeta pediu ré.

Foi chegando o forasteiro
Deu-me um abraço e me sorriu
E antes que me desse um beijo
Mandei-o a puta que o pariu.




domingo, 17 de outubro de 2010

Fico ficando

Quando você vira a esquina
Me vem um sei-o-que
Um abraço seco
Prolífero e sonso.


Fico confuso
Fico triste
Fico

Tô ficando
Fiquei.

Fico ainda besta com a imensa quantidade de besteiras que escrevo no espasmo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O ponto

O ponto é um tanto triste.
Solitário e escuro.
O final já aconteceu,
Enterrado e fedido.

O continuador se ilude
Enquanto os dois pontos se explicam.

Prefiro as reticências
Tenho medo do ponto.

Se bem que pode ser de partida...

O Estranho

O estranho era estranho
Nem feio, nem bonito,
Estranho.
Vultuoso e ágil
Plugado em dimensões de beleza particular
E sonhos
Que só ele sabia.

De seu rico mundo de espasmos
E sorrateiras luzes de neon,
Brilhavam chuvas de inverno.

Seu apreço pelo estar
Era vago
E coexistia pelo espaço
Perambulando pelos becos e avenidas
Fedendo a trabalho e luto.

Um dia
A estranheza foi-se embora.
Mudou-se para um lugar bonito e calmo
Segundo o dito popular.
O cenário tornou-se mudo e imaterial
E seu vazio era completude e estranheza.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

23

Dia estranho... Desses de manhã fria e tarde ensolarada. Me senti igualmente estranho e me sinto inda agora. Como se eu inconscientemente esperasse muito mais do hoje, de mim, das pessoas... Isso fere.

Mas eu sei, quero muita coisa além... Difícil me agradar.
Sou assim, confuso
Há 23 anos
E ainda me surpreendo com obviedades...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Paisagem


É tão bonito ver você...
Você e todas essas coisas que te cercam.
Quando te enlaço em meus braços e delineio suas curvas;
Montanhas do meu cenário,
E sinto seu cheiro, e beijo seu beijo,
E até mesmo quando se conversa amenidades
Parece um assunto que só nós sabemos, só nosso...

E quando canta, timidamente,
Mesmo que não seja pra mim
É como se fosse,
E como se fosse ensaiado, de tão bonito que é...

É você, e por ser você muda o sentido das coisas,
Descomplica as horas e as temperaturas.

Criatura mágica do sorriso de brilhante
Brilhando o sol dos dias de inverno.
Que me traz saudade, completude, tesão e mais,
Mais um logaritmo de coisas que mal sei falar.
Sei sentir.
E sinto.
Sinto muito.
E te amo.

No mais singelo, cafona e desajeitado modo,
Desesperador e concreto.

Você existe...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Por não saber


De todas as coisas de valor ameno,
Dos sonhos confusos
e profundos dilemas,
Você é a minha solução,
Minha lacuna, minha resposta,
Meu tempo, Meu devaneio.
Meu anseio de voltar, de ficar, de parar o tempo,
De dormir abraçado até que se finde forças.

Por que você está comigo nas utopias
Nas verdades,
Nas mentiras,
Nas coragens,
Na vida.

Que você me ame ainda que não saiba o que é amar
Pois te amo sem saber...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sonhos


Tenho sonhado contigo....

Abraçado entre seus braços
Exalando o cheiro de seu corpo
Permitido somente a mim,
Beijando.

Acordo e durmo.
Feito uma criança....

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Prova


Todas as coisas que compõem minha casa
trazem a mim um nexo, um sexo, um feelin',
Um louco trajeto de passado-presente-futuro.
E há pouco percebo
Uma lacuna.

Parece que pulei a alternativa,
Não sei,
Faltei essa aula, fui cantar.
E agora, frente à avaliação, um sem rumo infindo
Um zunido,
'Perdeu Playboy'
Um anti-tesão.

Os vultos e sulcos de um particípio passado
Que só existe na memória
De quem lembra,
E minha memória é um fiasco...

E a lacuna parece aumentar em proporções...

E o tempo pode acabar enquanto o suor frio desce...

Sinto essa falta todos os dias
Como uma ferida que jamais cicatriza,
Um fim que nunca finda...

Proponho um trato;
Você preenche minha lacuna
E eu dou minha vida pra te fazer feliz...



sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ré-feição


Deitado em noite fúscia
Numa dessas muitas noites frias.

Corpo nu, um suor leve

De dois sonambulos corpos entrelaçados.
Paira sob a cabeça
Uma filosofia de araque:


O amor só serve

Se servido em dois pratos

Aquecido

3 vezes ao dia

E um à noite

Até que o fim finde

E findando feliz filme.


-Pensando bem, amor, não me importo de me dividir com você...

Saudoso distante


De novo distante...
Novamente sonoro
O sombrio significado
Sincronizado
Da palavra distância...
Longificando os prazeres da palavra bem estar,
Estabilizando o estável medo.
Medonho medo...

Medo da sede, medo da fome,
Medo do inferno, do escuro,
Do sono, da falta de sono,
Dos sonhos,
Da senha do código; o amor.
A 'coisa'
Que chega e fosca fica,
Torta se estreita,
Prende-se num laço
E se entrega de presente.

Um medo, um modo, um meio
Que seja um meio de transporte.
Que atropele a distância,
Mate a sede
E surpreenda-se a um novo ponto de partida.

Partida agora já distante.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Amor descalço


E todas as coisas são assim,
Agrupamento de ideias sem sentido algum.
Frases reformuladas sem destinatário,
Alvos sem flechas a ser alcançado,
Kilometros e metros
Pra quem já cansado treme os lábios secos,
Secos no passado
E nos olhos o medo de um amor descalço,
Unidade invalida,
Descongelado, o coração dispara ao inverno amargo.

Manifesto-me contrário
Esperando um novo dia
Em que todos os sorrisos me aproximem do voltar
Cedo ou tarde passe o tempo dos minutos do relógio
Na memória essa história,
Mil mensagens no meu celular.

Dançar até cair, cair até sonhar
Sonhar até chover, chover até secar
Calçar, vestir, usar, cansar, jogar no lixo...
Foto fotoshopar
Matar o tempo à pá
Pedaço por pedaço, enfim desmoronar
Imagem no espelho desclassificando
Cartas e abraços tão guardados
Desejos por hora adiados
Enlouquecidos pensamentos
Dualidade é não ter hora pra acabar.....

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sobre faltar


Três e pouco, madugada
Vê-se insetos e seus zumbidos
Poucos livros, uma cama,

Um sonho, devaneio,

Uma loucura zonza e cansada,

Velozes vultos

De absoluta beleza

Me tomam o tempoem sons noturnos

De um dia que não amanheceu.


Um cômodo simples

Amontoando peças de roupa

Entre dicionários e bibelôs

Numa aquarela de cores fabulosa e sombria

Dos mundos de um móvel qualquer.


E as lágrimas

Dos olhos vermelhos de sono

Se embalam na saudade

De um calor distante...

domingo, 13 de junho de 2010

Orações


São tempos difíceis
De gritos e silêncios,
Tão poucas as bençãos,
Tantos são os corações sombrios;
Me recolho em orações.

Versos simples
Espontaneamente organizados e gratos
Refletem meus dias...
Agradeço, peço,
E posso parecer ingrato
Ao desejar sempre um tantinho mais.

Mas, sempre existe uma alternativa,
Uma carta na manga, uma pedra,
Um jeitinho
Brasileiro ou não
E eu peço, com clareza
E verdade
Ao meu bom São Super Mário
Pela compania diária
E sei
Que do alto de suas habilidades
E sons monofônicos
Um dia
Ele invadirá o meu quarto
Com muitos pontos no ''level'',
Me estenderá a mão
E as nuvens serão cortadas
Por um brilhante carrinho vermelho
Vermelho-vida
Amém.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

9 Filhos


O primeiro filho nasceu precoce.
De tão precipitado
Ninguém, nem eu,
poderia acreditar na dimensão deste
Que seria só o primeiro.

O segundo nasceu cheio de si
Forte, berrando pelos corredores da casa,
E lindo
Como um dia que surge da imunda noite.

O terceiro surgiu numa correria imensa
De aspectos diformes.
Desenvolveu às pressas, sem perder o encanto
Mas, de uma maturidade assustadora.

O quarto e o quinto nasceram tristes
distantes, reflexivos,
Questionando as proporções de si
e dos outros.

O sexto e sétimo filho nasceram doentes
com seus olhos vermelhos de choro
Sem fome, sem tino
O sétimo inclusive, quase aborto,
Se arrastava pelo chão
Como uma bomba que anseia a explodir.

O oitavo me aparece machucado,
se defendendo da morte com bravura,
Limpando a casa dos fantasmas,
Entoando cantos de acolher...

O nono filho nasceu!
E tão bonito, sorriu pra mim...
Pulando por entre os versos
brincando com meus problemas,
Me fez enxergar
que nem sempre o melhor é o que cheira rosas,
ou o fácil, ou o grátis.
Por que percebo
Que hoje sou um pai melhor
E que isso só me aconteceu por que tive filhos
E filhos estes repletos de peculiaridades
Dificuldades e sutilezas...

Por isso amo a todos
e anseio o próximo.



segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mensagens de Maria


Como uma oração,
O brilho de um milagre,
Sonoros tilintares eletrônicos
Divinos...

São mensagens modestas,
Mas não meras.
Mensagens,
Afeto, contribuição,
Divisão total de bens...
Um jogo de frases
Abençoando doces sentimentos.

Beijo a mão que me beija e afaga,
Sutil amacia,
Trazendo o conforto das noites tranquilas...

Soam como um cheiro bom
Que permanecem no ar
Mesmo em corpo ausente...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

P.S.


Suave e sublime,
Simplesmente existe.
Como sobreviver,
Resistir...

De um poder fenomenal
Pinta os quadros da parede branca,
Envolve a atmosfera de sons confortáveis
ilustrando os versos que escrevo
Rimando sentimentos que conheço ou não.

Somando forças,
Me faz sentir útil,
Me invade cumplicemente,
E me toma cruel
A insaciável solidão.

E mais,
Docemente me faz feliz
Inundando de sorrisos
Dias mais que comuns.

Se instala no peito
Recordando-me de incontáveis momentos
dos muitos que preferia esquecer...
Mas assim faz.

Rude, sutil, sensível, sensorial...
Ainda não é isso...

Acho que nem escrevendo, nem pintando,
nem vivendo, nem cantando
conseguiria externar o valor da música na minha vida.
É além de mim,
Prefiro ouvir...

domingo, 11 de abril de 2010

7 meses


Ainda parece que foi ontem
Naquela sala branca
Um frio na mão
E umas borboletas na boca do estômago.

Ninguém poderia acreditar que era só o começo
Mas, já era.

Me sinto imensamente feliz
Por ainda sentir-te tão facilmente
e sublimemente.
Impossível de descrever
Em meio à riqueza de todas as palavras de nossa língua...

Tão bonito nós dois,
Tão bom o nosso cheiro
E ainda tão irresistível o gosto de nossas bocas unidas
Nesse sabor que só nós dois conhecemos...

Desculpe-me a vaziez de palavras.
Construímos juntos
o que eu só consigo hoje sentir.

sábado, 10 de abril de 2010

Carta ao poeta


Por onde andas?
Procuro tanto por tuas palavras...
Cada vez que por ti anseio,
Um tédio, um despertador,
Um medo me agrava.
Conte-me mais de ti...

Certa feita,
Li em teus poemas
Um amor lascivo e egoísta.
Senti inveja...

Por onde anda sua delicadeza?
Sinto sua falta.
Idealizo tua presença
Nos livros que leio.
E a cada verso
Procuro uma palavra
Pra chamar de 'minha'.

Me escreva uma carta,
Com seu endereço
E se puder, escreva uma estrofe
Daquele amor que eu não esqueço.

Espero que o tempo,
Caro poeta,
Me faça entender tua distância
Ou me conte algum segredo
Que em teus textos
Jamais consegui decifrar.

Me perdoe a franqueza,
Mais já não sinto reciprocidade
Em nossos versos...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Flash Back


Uma estranheza,

Um anseio e uma satisfação,

Um gosto diferente...

E uma saudade

Das coisas que já não novidade,

Que mesmo soando velhas,

Permanecem com o mesmo encanto.

Um que de devaneio...

De som antológico,

Luzes multicoloridas,

Uma inveja, um remorso...


Uma saudade imensa das coisas que não vivi...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mariana a cobrar


Toda vez
que Mariana me liga
A COBRAR
me parece desaforo
e não atendo
não.

Mas, na agonia
da injustiça
ou do toque digitalizado
repetindo em meus miolos,
o calor do suor no corpo
ou por qualquer outro motivo,
nem espero retornar nem desligo;
ligo,
e gasto o que não devo em amenidades...

Mas tudo bem...
Quando Mariana atende
e rente ao telefone celular
me sorri
fraco fico
e quando menos espero,
me quita os créditos
com sua satisfação...

Longe


Quem mede as distâncias? Passei a minha infância questionando-me. Existem réguas tão compridas ou o povo vai emendando? Ninguém nunca soube me responder... Mas, quer queira quer não, a distancia existe, e é uma mulher bem chata (como eu dizia em minha pequenez).
Passei boa parte da minha vida transitando pelas redondezas. Escola-clube-amigos-família, tudo, há poucas quadras, me era ofertado.
Quando concluiu-se que, o melhor para mim seria longe do meu habitat, lá fui eu, de mala e cuia (literalmente) para as terras paraibanas. A partir daí conheci o significado das palavras DISTÂNCIA e SAUDADE. Mais ou menos, no mesmo período em que comecei a escrever bobagens...
Anos depois volto com bagagens e algumas cuias restantes de volta à Bahia. Pronto. Finalizei minha intolerância por malditas distancias e apego. Muito tenso, confesso, trocando saudade por saudade enquanto passavam-se quilômetros e milhas e todas essas medições que eu, por cansaço ou preguiça, nunca aprendi a calcular.
Sempre fui comparativo (talvez pela minha preguiça de aprender coisas em suas particularidades...). Percebi que, assim como, quanto mais se mede uma distância desconhecida, mais longe lhe parece e que quanto maior a distância do indispensável, maior é a saudade que se sente. Sim, me sinto tolo associando coisas como estas. Imbecil. Mas me conforta lembrar que existem espaços em mim de coisas que vivi em diversos lugares e com dezenas de pessoas. E a distância de um espaço desse para outro é tão curto que vale a pena ir a pé.

domingo, 4 de abril de 2010

Tic-Tac


Tempo...
Me atraso se penso no tempo.
Calado, ouço rádio e não tem jeito,
contar no relógio o tempo que resta
é tão pouco...
Maldito ponteiro!

Corre o tempo se tá dando gosto
e aquele gosto bom, da boca some
desespero lento, quanto tempo faz?

O amor custa caro
e tempo, dinheiro,
e se atraso o meu relógio
mais cedo chega o fim.

Para tempo, agora
ainda há tempo nessa hora
pra um novo começo,
esqueço o fim num instante...
Para quieto, dorme,
demora,
sempre existe tempo pra mais tempo
me esqueço a hora do relógio
e já é tarde
tenho trabalho e tenho hora...

Pra chegar a tempo,
pra pegar um sono,
pra voltar sem pressa...

Pobre louco condicionado,
me vê mais meia hora com gelo
e limão
acabou a pilha,
Ih!... O celular descarregou...
SORTE.





P.S.


Momentos felizes soam leves e rasteiros.
Brandos, com todas as suas cores e sabores.
Um adocicado cheiro morno embala o prazer de coisas tão simples.
E uma empatia tão agradável faz das memórias, um passado ainda mais encantador.

Somos todos pessoas. Pessoas que buscam bem estar e o mínimo de conformismo. Mas, de um modo geral, muito diferentes...

...E é bom sentir-se bem inerente diferenças e idades. É delicioso se orgulhar de partilhar cumplicidade. Tão delicioso quanto chocolate...

Um dia


Um dia você vai enxergar melhor, apesar das deficiências todas. E vai reconhecer que tempo é raro. De certo vai perder muita mediocridade e talvez se torne um pouco mais egoísta.
Um dia perceberá que as pessoas não são tão amáveis se você tiver nada além de experiência para dividir. Não todas, a maioria, mas você não se preocupará em culpá-las. São somente pessoas...
Um dia você vai se conformar mais. Vai perceber que passou praticamente em branco por diversos sublimes detalhes da vida e talvez não exista mais tempo para recomeçar. compreenderá que ser gentil não é ser careta, e que ser burro não é ser ignorante. E vai valorizar cada dia que acorda e saborear cada sobra que lhe resta. Observará benfazejo gestos simples e se emocionará com sutilezas.
Esse dia chega sem perceber-se. E pode ser amanhã, ou depois de amanhã ou até mesmo hoje. Plenitude se conquista diariamente e você é hoje a pintura de um esboço feito logo ontem. A escolha entre ser um ou só mais um é inteiramente sua. É como cultivar um jardim...

O animal


Existe um pedaço de menino,
um bandido,
dos piores, o vilão,
mas, pode ser seu aliado...
Não tem cheiro nem gosto,
animal selvagem correndo entre a relva
e denso, está de passagem,
urrando sentimentos egoístas e fúteis,
imorais,
lascivo personagem da história,
o passista...

Nem tão especial, nem tão bonito,
mais próximo do esquisito,
de seu jeito rude lhe estende a mão, se quiser,
e esteja onde estiver,
a longitude de sua complexidade
esqueceram de medir.
E medir pra que?

Simples racional mirim,
enlouquecido ator de sua história,
tímido crescente menino,
bípede capaz de te fazer sentir...


O jogo


Inocentes pingentes, solitários,
unidades voluntárias,
loucos amantes de alcova,
sonhadores idealizados,
vulneráveis transeuntes,
todos, dentre dinheiro, sucesso e saúde
almejam no outro,
a velha busca da companhia.

E ser só é de veras chato... Estou com eles e não abro!

Inicia-se o jogo; cada qual recolhe seus super poderes que serão mostrados na hora mais conveniente, segundo regras da competição. De início, apresentam-se em seus melhores trajes e suas respectivas intenções. Uma bondade e gentileza tão grande quanto os bens do paraíso. As afinidades, truques comuns entre participantes, auxiliam no bom desempenho no jogo. Inicialmente, pelo menos, gera empate.
No segundo Round fica é permitido atos de especulação. Jogadores investigam a procedência geral do adversário. é comum, nesse momento, descobrir-se pequenos deslizes, velhas mentirinhas de puras intenções e quedas de conduta. Há quem desista, há quem persista.
No terceiro Round os participantes se tornam livres para apoiar seus adversários; isso pode ser usado a seu favor, raciocine!
E assim surgem o quarto, o quinto e quantos Rounds mais possam ser suportados. Isso depende apenas do entrosamento e maleabilidade de ambos.
Um novo relacionamento, apesar da semelhança com diversos jogos de estratégia, é um jogo para gente grande. Em duelo, um sempre doa mais que outro; os inocentes se mostram desarmados e os experientes fazem uso de habilidades sutis e foscas. O ganhador pode ser o jogador que cancela a partida como pode ser o participante que observa o fim. Automaticamente o tempo revela o resultado. O campeão também pode ser o casl, mas, como nas competições, empates são difíceis...
Mas, não desista, caro leitor! A vida também é um jogo, já parou pra pensar?

domingo, 28 de março de 2010

O fim


As linhas do meu caderno
e a minha vida tem um fim.
Um medo assombra os desejos
por findar.
E assim os séculos, meses e dias
que por também findar,
adiam a resolução para um fim próximo;
adiar por findar...

E findo então,
meu poema sem pé nem cabeça
por querer mesmo seu fim,
morrendo de medo da morte.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Presente de um minuto


A chuva das noites passadas,
as dores de todas as dúvidas,
as farras, os porres, os risos e escândalos,
as conversas
fazem parte de um passado.

Os planos todos,
o casamento, os filhos, os netos,
o envelhecer, o padecer,
a mudança das coisas
fazem parte de um futuro.

O escrevendo do escritor,
o trabalhando do povo,
o amando, o construindo do casal,
o cuidando dos pais
fazem parte de um presente breve.

Portanto,
o portanto anterior não é mais presente
como o portanto de agora.
Seres humanos ligados no automático
desprezam o presente do minuto
constroem presentes de passados recentes
e o que se tem feito além disso?

Desejo construir meu presente minuto a minuto
até cada um ceder em passado...

Desejo merecer o segundo de agora.

domingo, 7 de março de 2010

Eu quero ser


Sua vida é uma canção,
eu quero ser cada nota, cada verso
cada refrão

E ser sua sombra, seu livro de cabeceira,
o seu jogo de estratégia,
sua festa, seu prazer,
sua insônia e seu cochilo,
seu algoz, sua força, sua ajuda,
sua ressaca e sua cura.

Eu sou o início,
e de repente tudo o que era incrível cansa,
e o que antes era novo
agora é antigo,
eu quero ser o umbigo,
o mundo seu, o próprio eu, o meio.

Dos olhares meigos e profundos
eu quero um sorriso infinito.
Da boca quero o gosto
amargo que me embriaga
de um amor gratuito, me entrega paz e guerra.

Eu quero a doçura da carícia
e o sal do suor que cai.
Quero ser o pão que o diabo amassou
e a maciez da asa do Querubim,
eu quero ser o fim, o começo e o meio
e o fim.

Eternosexualidade


As mãos entre as costas,
o arrepio às notas, o ar morno à torta
e à direita,
os mamilos entre os peitos,
os peitos entre os pelos,
os pelos entre as carnes
vivas e quentes,
bendita seja o ar que promete
umedece, cede e escurece.

Dedos longos, boca árdua,
beijo o beijo que me beija
e o que falta pro final
é desejo
de não parar, ou de parar
ou não, por tudo que se tem de sagrado,
de ficar alí afobado sentindo aquele cheiro
aquele gosto, aquele pacto
e o suor lambendo o corpo,
os olhos e o brilho
e todas as cores e o vermelho.

Sorriso evidencia a doação...

E que essa vida seja assim,
eterna enquanto viva
justa enquanto terna,
proibida enquanto úmida...

São os versos de minha eternosexualidade
que não me deixam mentir.

sábado, 6 de março de 2010

Medo de chuva


A chuva quando cai lava as ruas, estátuas e praças da cidade. Traz do céu com a água as energias de um lugar bom, até que se prove o contrário.
As plantas num geral respondem vistosas, coloridas...
O cheiro de terra invade os lares trazendo um pouco da zona rural às cidades. E embala o sono do bebê, dos animais todos e da menina chorona que perde o namorado.
E o dia depois de uma noite chuvosa é muito mais bonito, o sol é mais brilhante e o céu mais azul, tal como a menina depois de uma noite de chuva em sua cama escura, molhando seu travesseiro desconfortável; ela sorri e ninguém percebe as nuvens escuras de seu coração.
Um dia a chuva volta pra chorar outras mágoas, dias ou meses depois... E pode ser só uma lágrima mesmo, pode ser desespero...
Um dia a menina volta pra casa cansada, sem poder fazer muita coisa e já sem lágrimas nos olhos. Senta e escreve no diário o que queria pra sua vida, se importando muito pouco com as lágrimas caídas do céu.
Um dia chega o verão, enchendo de sol os lugares, e a menina brinca com os cabelos de frente ao espelho, rindo de si mesma...


... Não sei, tenho medo da chuva....


quinta-feira, 4 de março de 2010

O sonho


Um dia sonhei verde, rosa, azul turquesa, amarelo ouro, violeta, caqui, goiaba e vermelho. As pessoas me pareciam amáveis e indefesas, e eu não precisava me preocupar em como lidar com elas. O dia era de verão, uma brisa leve, um sol conveniente.
No meu sonho eu via todos os meus amigos, de todos os lugares desse país, juntos conversando coisas sem muita importancia, só pelo prazer da companhia. Minha mãe, meu pai,meu povo, todos muito bem, com saúde e o meu amor, o mais bonito, o mais honrado e recíproco de todos.
De repente o sonho acaba e o que resta são as frestas da luz de vida que ainda existe. São os resquícios dos desejos de toda uma vida ou a retratação de um presente feliz. Quem sabe? Fica a deixa de um sonho bonito que eu tive, uma utopia talvez, mas de sabor mais que indescritível...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Confesso



Depois de uma noite chuvosa e fria,
cinza, raios e zumbidos,
monstros do escuro e choro,
o sol brilha
os pássaros cantam,
corre-se por entre os verdes
e assopra a mais bonita voz...

... E você sorri pra mim...

O tempo


O tempo muda os ponteiros do relógio
O tempo traz gargalhadas do puro ócio
O tempo encoraja, resseca a timidez
O tempo se encarrega do mundo
e das coisas que o mundo não fez

O tempo entrega à correio o carinho do amigo
O tempo transforma aflição em sono tranquilo
e modifica as paisagens no ano
apagando do amanhã ou depois
o plano secreto da vida sonhada pra dois.

O tempo saúda a memória do amigo passado
e mata a saudade, e faz do futuro recente
sufoca as juras de amor
envelhece o tão recente amor
Oferece e apaga a dúvida chamada amor...

Tempo sara, tempo nina
uma canção pra dormir e sonhar e chorar...

Lágrimas de sangue


Um peso enorme,
um sei lá o que,
uma vontade de chorar dos olhos cansados de ver
um pressentimento.
Um amor tão grande morrendo assim,
será?

E um sonho de um presente distante esvaindo-se...
Um pesadelo
dizendo coisas que jamais foram ditas,
um mormaço
ameaçando chuva em meio ao calor
que eram só dois.
Será um? Será outro dois?
Lágrimas de sangue escorrem por dentro
entre músculos e órgãos
dos planos que viram cinzas
e o vento leva, sem pretensão alguma.

Uma cumplicidade fraterna, quase incestuosa
fazendo dessa vida um maço de cigarros
a cada prazer, fuma filtro e joga fora
e o que fica é interno
destruindo o que se construiu até então.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Em par


Esse amor todo parecia demais pra mim, garoto comum nesse mundo de Deus. Mas, aconteceu e foi uma dessas coisas que aparecem de algum lugar inabitado, desconhecido e bom, por isso chamado 'coisa'.
Ah... o amor. Doce, vermelho e admirável amor. Surgem mundos inteiros em nossa cabeça e a gente construindo casas e paisagens firmes nessa sociedade particular, sem pensar nas vulnerabilidades do ser humano. Assim surge um buraco negro e engole o cadáver da 'coisa' toda. As cores mudam, o tempo fecha, lágrimas caem...
Por isso, toda vez que acontece alguma novidade sentimental desconfio e revivo tudo em minha cabeça. Mas, dessa vez o vôo me parece tão alto. Prefiro não pensar na aterrissagem. Sinto o vento correr no meu rosto, algumas nuvens e muita luz. Prefiro respirar fundo e prosseguir. Logo virão planetas, cometas, galáxias e por fim, o universo se compara em dimensão ao que divido.
Acredito no que vivo, cuido e amo. Sobretudo confio. Sou feliz demais em dueto.

Saudade


Toda vez que se diz adeus não acontece apenas uma despedida. Existe uma perda imaterial envolvida. O espírito encontra uma faceta de luto e o dividir subtrai. Uma vez amando tanto, se permitindo entre irmãos, admiráveis conhecidos e vultos do passado, fica uma parcela de si mesmo onde quer que se diga ‘até mais ver’. A vida se encarrega de tornar as coisas brandas, cada vez se conhece mais pessoas e sem perceber, inicia-se um novo ciclo, o provável causador da saudade do futuro. O que torna permanentemente viva a questão.

E a gente sonha, seleciona, realiza alguns desejos, se encontra por aí, e nos dividimos entre dezenas de unidades móveis, sempre deixando deslizar por entre frestas os sussurros de um som muito particular. Mas tudo bem. Num dia de sol ou de chuva vou escrever uma canção e nela vou imortalizar todo o meu passado em duelo com o presente. Quem amo vai sentir-se aconchegado mesmo distante, e quem escolhi dividir a vida, vai revigorar-se ao perceber que junto estamos não só construindo um passado e um presente.